Numa das minhas turmas no Curso Normal, encontrei alunos que não sabiam dividir e os que sabiam, nunca tinham visto uma justificativa do processo. Fiquei preocupada, pois o algoritmo é útil para cálculos não cobertos pela tabuada e não tão complicados que exijam a calculadora, ou em exames em que a calculadora não seja permitida. Além disso, o uso do algoritmo é uma oportunidade para a prática da estimativa.
Co-existem 2 algoritmos utilizados na divisão: o longo e o curto. Para compreender como funciona qualquer um dos dois, vale a pena começar pelo longo e verificar depois como ele pode ser simplificado, para o algoritmo dito “curto”. Dentre os 2 algoritmos da divisão não há aquele que seja o melhor. O longo é mais simples, pois separa as operações de multiplicação e subtração utilizadas a cada passo, mas, como o próprio nome diz, é mais longo. O curto tem a vantagem de ocupar menos espaço e menos tempo (talvez!), mas integra a multiplicação e a subtração numa só operação, o que aumenta as dificuldades, notadamente, quando o divisor tem 2 ou mais algarismos.
Na minha opinião, o professor deve escolher um deles, desde o início. Se algum aluno preferir um outro algoritmo, o professor deve analisar o processo do estudante, aceitá-lo se estiver certo e mostrar o erro ao aluno se estiver errado. Mas não acho bom apresentar opções variadas a um iniciante.
Considero também muito importante que o aluno tenha visto uma justificativa do processo utilizado, ainda que não saiba repeti-la.
O entendimento dos passos do algoritmo pode ser ilustrado, em exemplos, com uso de dinheiro e o respectivo registro em papel. Conforme a idade e o amadurecimento do estudante, pode ser preciso usar réplica de notas e moedas, mas, para os meus alunos, já adolescentes, só a ideia de usar o dinheiro já foi suficiente.
Justificando o algoritmo longo: Pedi aos alunos que se colocassem num país em que as notas são de 1 real, de 10, de 100 e de 1000 reais. Que se organizassem em grupos de 4 alunos. O problema dado aos grupos foi o de montar uma certa quantia com o menor número possível dessas notas e um dos estudantes iria distribuir igualmente essa quantia entre os 3 outros colegas, sempre usando o menor número possível de notas. As quantias indicadas aos grupos foram 648 reais, 436, 257 e 408 reais que seriam divididas por 3.
A primeira questão foi sobre começar pelas unidades (notas de 1 real), ou pelas centenas (a nota de maior valor). Por exemplo, ao dividir 436 por 3, o grupo que começou por distribuir as 6 notas de 1 real, distribuiu, para cada um dos 3 colegas, 2 notas de 1 real, 1 nota de 10 reais e 1 nota de 100 reais. Sobrou, porém, 1 nota de 100 reais e ficou claro que ainda seria possível distribuir mais notas de 10 reais entre os três. Foi preciso retornar às dezenas. Os próprios alunos concluíram, então, que, no algoritmo da divisão, o mais simples é começar pela ordem mais alta, ao contrário do que faziam nos algoritmos das operações anteriores: adição, subtração e multiplicação.
Estabelecido isso, os grupos teriam que completar a divisão e registrar cada passo. Ficou claro que notas de maior valor que sobrassem, por serem menos que 3, deveriam ser trocadas por notas de valor imediatamente inferior e juntadas àquelas desse mesmo valor que já faziam parte da quantia inicial (se houvesse alguma). No registro numérico, isso significou juntar à direita do resto o algarismo seguinte. Uma outra observação foi que, no grupo que pegou a quantia de 227 reais, não foi possível distribuir notas de 100 reais. O processo já começou pela troca das 2 notas de 100 por notas de 10 reais que foram acrescidas das 5 notas de 10 reais que já faziam parte da quantia inicial
Todos tiveram, entretanto, uma dúvida: a cada passo, com as notas em mãos, o resto correspondia às notas que não mais poderiam ser distribuídas por serem em número menor do que 3. Sem as notas, porém, como saber quantas entregar a cada um e quantas sobrariam em cada etapa?
Pensando um pouco, os grupos concluíram que, sem as notas em mãos, havia uma nova etapa: a avaliação de quantas notas poderiam ser entregues a cada um.
Perceberam também que precisavam saber qual o total das notas distribuídas de cada vez e que, dado o número de notas que cada um recebeu, saber quantas foram distribuídas ao todo seria um problema que se resolve com uma multiplicação. Para saber, então, qual é o resto a cada passo, bastaria multiplicar por 3 o que cada um acabou de ganhar e subtrair do que havia para ser distribuído. E isso deveria ser feito em cada etapa.
Meus alunos acabaram por perceber todos os passos da divisão:
1. Separar algarismos de ordem mais alta, o mínimo possível deles, que torne possível a divisão.
2. Avaliar quanto será possível dar a cada um – ocasião em que o conhecimento das tabuadas de multiplicar é essencial. Algum dia desses, conto o que sugiro aos estudantes que não tiveram a oportunidade de decorar essas tabuadas na idade apropriada.
3. Fazer a multiplicação do quanto coube a cada um pelo divisor.
4. Se o produto for maior do que a quantia que havia para ser distribuída naquela etapa, a avaliação tem que ser refeita, voltando ao item anterior.
5. Sendo o produto menor, será preciso subtrair esse produto do que havia para ser dividido naquela etapa.
6. Se o resto for maior do que o divisor, a avaliação também terá que ser revista, voltando ao passo 3.
7. Se o resto for menor do que o divisor, ele deverá ser acompanhado do próximo algarismo na quantia inicial (se houver) à sua direita: esse registro equivale a trocar as notas restantes numa etapa por notas de valor imediatamente inferior e juntá-las às notas de mesmo valor que faziam parte da quantia original. Conclusão imediata do valor posicional no nosso sistema decimal.
8. Voltar ao passo 2, com a nova quantia assim formada e repetir o processo.
9. Esse processo termina (na divisão com quociente inteiro), quando o algarismo da unidade já entrou na quantia a ser dividida.
Entendidos esses passos, foi preciso usar a nomenclatura própria de dividendo, divisor, quociente e resto e indicar a posição que cada um desses números ocupa no algoritmo.
Uma compensação desse trabalho com os alunos é a maior facilidade que os alunos adquirem ao lidar com o 0 na divisão. Todo professor sabe que numa divisão como por exemplo, 615 por 3, haverá muitas respostas 25. O aluno que passou pelos passos anteriores, está mais preparado para estranhar que as 2 primeiras “notas” não sejam de 100 reais e vai perceber que as notas que faltam são as “notas de 10 reais” e não as de 100 e que, portanto, o resultado é 205. Além disso, ele já está mais acostumado a fazer avaliações em divisões, o que pode servir de alarme quando uma divisão de mais que 600 por 3 não der um resultado maior do que 200.
Uma outra vantagem de apresentar a justificativa desse processo é que a continuação da divisão não exata para obtenção de um quociente com parte decimal fracionária nada mais é que o prosseguimento do processo de trocas – agora, das notas de 1 real por moedas. É conveniente que, no país em que estamos fazendo os cálculos, haja moedas de 1 decavo (1 décimo do real – a nossa moeda de 10 centavos) e de 1 centavo.
Para passar deste ao algoritmo curto, seria ainda preciso mostrar como a multiplicação e a subtração são feitas ao mesmo tempo, algarismo por algarismo. Nesse caso, a subtração é feita “de baixo para cima”. Daí, é recomendável que o professor que pretenda usar o processo curto na divisão, tenha escolhido o processo da subtração também “de baixo para cima”.
Hoje em dia, porém, quando as calculadoras são bastante acessíveis, não creio que faça muita diferença usar o algoritmo longo ao invés do curto. E o longo fica bem mais fácil, pois as operações de multiplicação e subtração seguem os mesmos passos estudados anteriormente, com uma ligeira mudança na posição dos dados. É preciso lembrar também que, ao utilizar o processo curto com um divisor de 2 algarismos, a multiplicação e a subtração, imbricadas passo a passo, se tornam ainda mais complicadas. A maior facilidade do algoritmo longo se manifesta mais claramente, nesses casos.
que droga e esse site
ResponderExcluirconcordo com voce
ResponderExcluirnão me ajudo esse site
ResponderExcluirquem fez esse site doido
ResponderExcluirRidículo esse site.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão entendi porra nenhuma.
ResponderExcluirInteressante... Quanto mais especificado o calculo é, mais compreensível torna-se! VLW!!
ResponderExcluirOs alunos desta professora ou ficaram loucos ou com mais dúvida, pois o problema dado não ajudou em nada a minha compreensão. Dividir uma operação por um algarismo qualquer criança do pré faz, a coisa pega quando precisamos dividir por três ou mais algarismos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom... este processo é para professores que estão trabalhando com os alunos o algoritmo da divisão. Ensinar a fazer conta qualquer um ensina. Ensinar a compreender o processo, justificando porque "abaixa" um algarismo quando não dá mais pra dividir, é muito complexo. Aqueles que com sorte tiverem um professor com essa sensibilidade, não esquecerão mais...
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